Fotos de CARMINA REÑONES
Música na Inglaterra de Shakespeare
O AULOS - NÚCLEO DE FLAUTAS DOCE DA UDESC em CONVÊNIO COM A UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO utilizou para este concerto réplicas de flautas construídas na época de Shakespeare, provavelmente no Sul da Alemanha. Os originais desses instrumentos estão na Coleção de Instrumentos Musicais Históricos do Museu de História da Arte de Viena e essas cópias foram construídas por Adriana Breukink (Holanda). As flautas apresentadas aqui pertencem ao Laboratório de Instrumentos Históricos da Universidade do Estado de São Paulo (USP), coordenado pela Professora Dra. Mônica Lucas e fazem parte de um convênio firmado entre a UDESC e a USP, que prevê o empréstimo temporário dos instrumentos para o Projeto de Pesquisa "Músicos, Música e Instrumentos: investigação da performance na música histórica e na música popular tradicional" e para o Programa de extensão "Flauta Doce - Performance e Formação", ambos coordenados pela Professora Dra. Valeria Fuser Bittar.
Na Inglaterra do século XVI nasce um novo impulso musical através da influência continental e da reforma, e mais adiante, no final da primeira metade do século, por intermédio da quarta e da quinta gerações de compositores franco – flamengos, a ênfase composicional inglesa estará centralizada, sobretudo, na música sacra (gêneros como motetos e missas).
No reinado de Henrique VII e Henrique VIII, entretanto, dá-se continuidade às composições profanas, como reflexo da vida de corte, que, “nesta época, na Inglaterra estava longe de excluir elementos de origem popular”. (GROUT, PALISCA. p. 230)
Neste período o compositor de grande reputação é John Taverner (1490-1545). Ainda sob o reinado de Henrique VIII (1509-1547) os compositores de destaques são Christopher Tye (+ 1572), Thomas Tallis (1585) e, mais tarde, William Byrd (1543-1623). Em sua maioria, compõem missas latinas e magnificats, textos ingleses para o serviço divino anglicano, gozando de especial predileção pelos motetos (anthems) e canções (canticals).
Durante a segunda metade do século XVI é forte o impulso em direção à música profana, levando finalmente à grande época do esplendor da música inglesa, aproximadamente entre 1590 e 1620, no reinado de Elisabeth I (1533-1603). Nesse período é conhecida a parceria de Shakespeare com o alaudista inglês Robert Johnson (1582-1633), músico da corte de Elisabeth I, onde também foi músico seu pai, o alaudista John Johnson.
De início, os compositores ingleses seguirão os modelos italianos dos gêneros profanos: madrigal, canzonetti e balletti, que, mais adiante, transformam-se em gêneros nacionais ingleses: songs e ayres.
A primeira coleção de madrigais italianos traduzidos para o inglês foi editada em 1588, chamada de Música Transalpina. Somente em 1594, Thomas Morley editou os Madrigais Ingleses, menos ‘artificiais’ que os italianos, mais simples enquanto texto e harmonia, apontando em direção à canção. Além de compositor, Thomas Morley (1557 ou 1558-1602) foi teórico, editor e organista, considerado um dos grandes madrigalistas da escola inglesa. Foi o mais famoso compositor de música profana na Inglaterra “elisabetana”. Tanto Morley quanto Robert Johnson são os únicos compositores sobre os quais se tem notícia atualmente como sendo aqueles que trabalharam sobre a poesia de William Shakespeare.
Nesse período também se dá, na Inglaterra, o florescimento da música instrumental, em especial a música composta para “consort” de violas da gamba, flautas, música solista para virginal e para alaúde. Um marco da composição inglesa é a canção acompanhada por alaúde, onde encontramos seu maior representante John Dowland (1563 – 1626). Sua música sintetiza o imaginário associado à “melancolia elisabetana”, onde o texto da canção irá descrever detalhadamente o típico posicionamento do amante melancólico e do amor abandonado.
Sabe-se que Dowland esteve em Paris e que trabalhou na corte de Christian IV da Dinamarca. Mais tarde, retornando à Inglaterra ocupou o cargo de alaudista de James I. Dowland compôs para alaúde, consort de violas e canções acompanhadas por alaúde. Muitas das músicas de Dowland são para alaúde solo.
“Flow my tears” tornou-se sua canção mais conhecida e inaugura, mais tarde, a sua célebre obra instrumental, Lachrimae, ou Seven Tears, Seven Passionate Pavans, sete pavanas para violas e alaúde, cada uma delas baseada em um tema extraído da canção Flow my tears. Esta composição, também denominada Lachrymae antiquae, foi utilizada por diversos compositores no século XVII, como é o caso das variações compostas pelo holandês Jacob van Eyck (c. 1590–1657), contidas em seu livro Der Fluyten Lust-hof.
Concerto do Aulos - Núcleo de flauta-doce da UDESC.
Créditos: Cleber D'Espindula